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Tuitar contra o governo pode dar até oito anos de prisão na Nicarágua


Foto: Oswaldo Rivas/Reuters

Atualmente 47 opositores do regime de Daniel Ortega sofrem com julgamentos sumários. A mais jovem deles, Samantha Jirón, de 22 anos, está há mais de dois meses no presídio La Esperanza obcecada com seu celular. Ela sabe que quando chegar sua vez de ser julgada, numa data que as autoridades vêm adiando sem motivo, as mensagens que enviou do seu telefone serão usadas pela promotoria. Na Nicarágua manifestar opinião contrária ao governo de Ortega nas redes sociais é um crime penalizado com até oito anos de prisão.


A mãe de Sam, como todo mundo a chama, fala da aflição da filha. "Em setembro do ano passado, ela me enviou várias mensagens urgentes. Tinha sido avisada de que estavam preparando sua captura por causa da sua ligação com a equipe de comunicação de Félix Maradiaga e por pedir sua libertação nas redes sociais". Maradiaga estava preso, assim como outros seis pré-candidatos à Presidência opostos ao regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo. Tratava-se de uma caçada sem precedentes, baseada num coquetel de leis repressivas e arbitrárias: a Lei de Agentes Estrangeiros, que criminaliza o acesso a financiamento internacional; a Lei do Povo, usada contra supostos “traidores da pátria”; a Lei de “Soberania”, que castiga a “conspiração e menoscabo da integridade nacional”, e a Lei dos Cibercrimes, contra a “difusão de notícias falsas por meio das tecnologias de informação e comunicação”.


Em 9 de novembro de 2021, apenas dois dias depois que Ortega e Murillo se blindaram no poder numa eleição sem oposição, um grupo de policiais armados e à paisana apanhou Sam perto do hotel Holiday Inn, numa das ruas mais movimentadas da cidade. Segundo as pessoas que a acompanhavam, os homens interceptaram o carro em que se encontravam e a fizeram descer aos empurrões. Ela gritava, e seus olhos vivazes se encheram de lágrimas. Ainda tentou entregar o celular a um dos amigos, intuindo que era a primeira coisa que iriam procurar. Não conseguiu. Poucos dias depois, o rastro de Sam desapareceu das redes sociais. Se a gente procura por ela no Facebook, se depara com o aviso: “Não há publicações disponíveis.”


A crise na Nicarágua divide a esquerda na América Latina


Uma geração atrás, a esquerda da América Latina se sentia inspirada pela Revolução Sandinista e vibrava ao ritmo de Canção Urgente da Nicarágua, do músico cubano Silvio Rodriguez.


Mas, agora esse país da América Central, em crise por causa da repressão que deixou centenas de mortos em protestos contra o presidente Daniel Ortega - que lutou na Revolução Sandinista - passou a dividir a esquerda da região.


As posições variam de um firme apoio a Ortega, expressado pelos presidentes Nicolás Maduro, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia, à defesa de que ele renuncie, manifestada pelo ex-presidente do Uruguai José Mujica.


Aqui no Brasil, o PT divulgou nota dizendo que as manifestações na Nicarágua atingem um "governo legítimo e democraticamente eleito" e comparou os protestos com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.


Enquanto o Foro de São Paulo, organização que reúne entidades de esquerda latino-americanas, acusou os Estados Unidos e a "direita golpista" de tentar desestabilizar a Nicarágua, o Partido Socialista chileno expressou "indignação pela violenta repressão no país".


Ortega "está polarizando a esquerda até mais que a Venezuela", disse Javier Corrales, professor de Ciência Política no Amherst College, nos Estados Unidos.


O teólogo brasileiro adepto da teologia da libertação Leonardo Boff, que já foi aliado dos sandinistas, divulgou uma carta dizendo estar "perplexo que o mesmo governo que conduziu a libertação da Nicarágua possa estar imitando as práticas do antigo ditador".


"O processo de desencanto com Ortega tem sido difícil e lento, mas chegamos ao ponto de provocar um racha na esquerda", afirma Corrales.


Para parte da esquerda, Ortega é considerado traidor da causa desde que se aliou a empresários e à Igreja Católica. Agora, o presidente da Nicarágua acusa bispos católicos de apoiar os "golpistas".


Na verdade, Ortega tem gerado divergências dentro do próprio sandinismo, com alguns expoentes da revolução tendo de afastado do presidente antes da crise atual.


Com informações de Piauí e BBC










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